Por que sentimos tanto medo de sermos nós mesmos?
- Lucas Ramos
- 22 de abr. de 2018
- 4 min de leitura

Eu me peguei pensando sobre a última vez que me senti a vontade com alguém, não soube responder, não consegui encontrar esse momento em minhas memórias, acabei chegando a conclusão que nunca houve uma vez, com isso um questionamento veio à minha mente:
Por que sentimos tanto medo de sermos nós mesmo?
A ciência, a psicologia em particular, tem várias hipóteses para explicar determinados comportamentos, algumas delas são chamadas de "mecanismos de defesa", as pessoas desenvolvem tais comportamentos com objetivo de se defender do mundo exterior(tudo aquilo que acontece fora sua mente; o que não é interno) quase que inconscientemente, algumas atacam e outras se fecham, porém de ambas maneiras deixam de ser quem são com medo do exterior machuca-las, ridiculariza-las ou infligir qualquer tipo de dano contra elas, ser quem são não é o bastante, é preciso camuflar sua natureza usando uma máscara social.
Com isso, as relações interpessoais tem caminhado para uma interação superficial, baseada em interesses e omissão, interagimos como seres virtuais em um mundo real, estando presente de corpo, mas com a mente e a alma em outro lugar, somos levados pelo ritmo acelerado do mundo moderno à fazer coisas sem pensar, se relacionar sem sentir, estamos perdendo a conexão com as pessoas para ganhar com a rede; que hoje se fundamenta na superficialidade de informação e de imagem, isso não se adequá as noções de "mecanismo de defesa", então por que as pessoas fingem ser o que não são? a verdade é tão ruim assim? mentirosos patológicos ou seres degenerados? Nos acostumamos tanto em esconder quem somos que não nos contentamos mais com o reflexo no espelho.
Foi nos versos da música "Wi-fi" do rapper brasileiro Nilo Santos, o Nill, que eu encontrei uma representação desses sentimentos:
"E quando o espelho deixar de ser normal Tenha sempre em mãos sua câmera frontal"
A relação entre o espelho e a câmera no verso evidência a cultura de superexposição que veio com a internet, na qual as pessoas escondem tristezas e problemas atrás de selfies, através de imagens para sustentar relações de falsa admiração em troca de um sentimento vago de importância para preencher um vazio, a cortina bonita de uma casa em pedaços.
"E odeio quando elas ficam todas iguais Escolhendo algumas frases só pra te agradar"
Outro ponto é a superficialidade nas relações e nas pessoas, sendo quem elas não são para agradar os outros, seguindo padrões da moda como se isso fizesse elas melhores, ser como os outros, criando um comportamento de padronização social prevalecendo sobre a identidade individual de cada pessoa, nisso se perde quem elas são.
Nas relações do dia-a-dia ações são feitas de uma forma automatizada, palavras que dizemos, maneiras como fazemos, comportamentos que temos, tudo pré-determinado por uma noção comportamental baseada na tradição e na adequação à sociedade e seu modelo de institucionalização do relacionamento social, de forma a criar-se um contrato de convivência, porém unilateral, aprovado somente pela vontade da maioria que prevalece em detrimento da singularidade de cada um.
Isso é, de certa forma, um dogma passado de geração para geração, estar sempre preocupado com o que os outros vão achar é fundamentado como de extrema importância e de interferência direta no comportamento e na vida de muitas famílias, uma falsa imagem vale mais do que uma realidade com liberdade fazendo o que se deseja, da forma que se quer, sem o palpite alheio importar, parecer feliz torna-se superior à ser feliz.
A moralidade social também cria uma distorção nos valores pessoais, esta que foi instituída por elites ao longo da história, tem como principio a distinção entre o que é certo ou errado para a sociedade, uma forma de dominação tão furtiva que não é percebida por grande parte das pessoas, elas são condicionadas à acreditar nessa moralidade como uma lei natural do universo, o que faz com que seja esquecido o passado no qual as coisas nem sempre foram como são e utilizando desse preceito o sistema controla e mantém as massas onde ele quer, reprimindo ideias, diferenças e opiniões.
A conclusão mais racional que se pode tirar disso é que isso só nos faz otários, desperdiçando nossas vidas para parecermos normais, quando a normalidade mata a essência do ser humano, fazendo de nós mesmos seres descartáveis, como produtos de uma prateleira, como máquinas de uma indústria, comandadas por noções sem sentido.
"Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois!"
- Charles Chaplin - O grande Ditador 1940
Com isso eu lhe pergunto, quem és tu? Conheces a ti mesmo? Fazes de tu o que tu queres, só então serás humano, não mais máquina, não mais gado, mas sim gente, não somente isto, no dia que fizeres de tu quem realmente és, livre serás eu te digo.
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