As Relações de Poder e Mudanças Sociais através do Xadrez
- Lucas Ramos
- 18 de ago. de 2018
- 5 min de leitura

O xadrez é um jogo de tabuleiro, de caráter competitivo, no qual o objetivo é derrubar o “rei”; as peças são compostas de oito peões, duas torres, dois cavalos, dois bispos, uma rainha e um rei, a movimentação das peças, por parte dos jogadores, é feita a partir de estratégia bastante pensada.
O poder na Sociologia é a probabilidade de impor a própria vontade em uma relação social, mesmo com resistência. A mudança social refere-se a uma alteração na ordem social de uma sociedade.
Como As Peças de Xadrez se relacionam com Os Indivíduos de uma Sociedade
Os peões, que estão em maior número, representam, atualmente, os trabalhadores assalariados, que são os indivíduos em contato direto com o trabalho e com os conflitos de uma sociedade, porém, apesar de seu grande contingente, são aqueles que detém menor poder em grande parte dos cenários ao decorrer da história, mesmo em democracias onde teoricamente as decisões são tomadas pela vontade da maioria.
Os cavalos, as torres e os bispos representam os exércitos e as forças de inteligência, cada um com seu método de atuação e limitação, porém, eles detêm um grau mediano de poder e tem como objetivo proteger o “Rei” (Estado, Rei ou outro representante máximo do poder).
O Rei e a Rainha são os representantes do alto poder, controlam a sociedade com os inúmeros mecanismos que detêm, eles são o Estado, A Realeza Soberana e os outros indivíduos/organizações detentoras do poder absoluto em uma sociedade, assim como no xadrez, nas relações sociais os resultados almejados só são alcançados quando algo ou alguém ameaça o poder desses órgãos, é possível observar tais mudanças na criação do modelo parlamentarista, na revolução francesa e na revolução russa, esses acontecimentos promoveram mudanças na estrutura social através da destituição parcial ou total do poder daquele no controle, assim como, também, um jogo de xadrez é ganho pela derrubada do “Rei”.
Relações de Poder
A sociedade humana, ao longo de toda sua história, se organiza em relações de poder. A hierarquia é um modelo observado nas diferentes partes do mundo, em diversas épocas e culturas. A existência de um líder é persistente desde os primórdios selvagens, o homem das cavernas, organizado em bando, reconhecia um indivíduo como o dominante no grupo, assim como é no reino animal, esse possuía poder sobre os demais e detinha privilégios, à medida que as sociedades primitivas foram se desenvolvendo essa característica se manteve, tendo seu auge na monarquia absolutista, na qual o poder era praticamente ilimitado e incontestável.
Entretanto, essa relação não é estável, a hierarquia pode se alterar através dos jogos de poder, relacionados à estratégia, força física ou apoio popular. Giram em torno disso as guerras, golpes e revoluções, nesses atos o principal objetivo é alterar o quadro de poder, seja expandindo ou alterando quem o detém.
Fazendo uma releitura das palavras de Karl Marx, A história da sociedade até aos nossos dias é a história da aquisição de poder.
No xadrez, o Rei deve ser movido com cautela para que a vitória seja assegurada, um jogo de estratégia e paciência, sendo o centro das atenções, a peça que proporcionará alcançar o objetivo do jogador, é necessário prever as jogadas do adversário e se antecipar para evitar esse golpe.
As Mudanças Sociais são Hierárquicas
As mudanças sociais, que alteram o quadro sobre qual a sociedade está organizada, também são hierárquicas, mesmo que, em grande parte, seja promovida por um grupo de indivíduos com um interesse comum, há um líder entre eles.
É evidente o fato que entre os golpes, guerras e revoluções bem-sucedidas uma elite ou um indivíduo toma o poder e os privilégios para si, mesmo que haja uma grande mudança na organização de tal sociedade.
Isto é claro na revolução russa, uma revolução que se dizia popular, porém, uma elite militar, participante das lutas de derrubada do poder monárquico vigente, passou a governar a nação socialista e foi quem deteve o poder e decisões sobre como o país deveria se organizar e atuar, o que demonstra errônea a noção de que era um governo do povo para o povo, já que nele existia uma hierarquia, houve apenas uma transição de poderes soberanos, ainda que tenha ocorrido uma forte mudança na estrutura social, nada realmente mudou.
Seres Humanos são Naturalmente Ambiciosos
A humanidade não encontrou seu ápice de satisfação quando realizou a façanha de chegar ao topo da cadeia alimentar, muito pelo contrário, esse foi apenas o começo, de um jogo de poder, de uma disputa entre espécies, criando diferentes formas de subjugar, de superar, de forma técnica e racional ou violenta e babaria, até o momento em que passou a ser uma disputa entre a própria espécie, disputam pelo que há em abundancia e aprisionam aquilo que é precioso, em vez de multiplicar e repartir.
“Sempre houve o suficiente no mundo para todas as necessidades humanas; nunca haverá o suficiente para a cobiça humana. ”
― Mahatma Gandhi
A natureza proveu ao homem o que ele necessitava para viver, não satisfeito ele tomou aquilo que ela não era capaz de dar e, assim, tomou para si o direito de privatizar a vida, dessa forma, o poder que ele instituiu sobre a mãe de todos agredindo-a lhe tornou soberano sobre os seus semelhantes.
Uma Partida Eterna com um Final Distópico
Esse jogo de poderes soberanos disputando pelo controle do mundo há milhares de anos levanta uma série de questionamentos, alguns deles são, em vista da grande perda de importância que aqueles detentores da menor parcela de poder tem constantemente sofrido diante dos avanços dos últimos séculos, sobre quanto tempo mais essa guerra irá durar e se chegará um momento em que essa camada se tornará tão obsoleta e desnecessária para as necessidades daqueles do topo que viverá às margens de uma utopia rodeada por uma distopia, o céu e o inferno na terra, onde não haverá mudanças sociais, um mundo dividido em aqueles que possuem poder, membros da sociedade, e os que não possuem nenhum, apenas formas de carbono descartáveis largadas pelo lixão que se tornará o mundo.
Um tabuleiro de xadrez compostos apenas por Reis, Rainhas e representações holográficas das outras peças, em um jogo parado, esquecido em uma velha mesa empoeirada dentro de um quarto em chamas, fogo que consumiria toda a mobília, mas que deixaria intacto o jogo, estático pela eternidade até que a cobiça humana crie divisões dentro da própria supremacia.
“Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades [...] lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure a oportunidade de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém, escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. ”
― Charles Chaplin
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