top of page

Morte - Uma trajetória sentimental pela mente

  • Foto do escritor: Lucas Ramos
    Lucas Ramos
  • 17 de set. de 2017
  • 3 min de leitura

Caminhando pela densa e nebulosa floresta avistava no horizonte um pequeno e uniforme raio de luz que direcionava-o para o fim. Ao fundo era possível ouvir os sons dos pássaros ecoando pelos galhos tortuosos das nuas árvores a pouco despidas pelo outono, e apesar disto, com a leve exceção do pequeno raio distante, nenhuma luz adentrava em tal melancólico lugar, consequência das grandiosas proporções de tal vegetação.


O ar era úmido e frio, com o cheiro da terra molhada e de folhas em decomposição, criando uma atmosfera calma e depressiva como o fundo de uma vala prestes a ser ocupada pelo cadáver de uma pobre criança consumida pela peste, antes mesmo dela poder de presenciar o desabrochar de uma flor.


O garoto que fora deixado naquele sombrio lugar agora ouvia os roncos de seu estomago, que o seguiram por horas até que cessaram pela acomodação do vazio, transferindo o incomodo para a seca boca sedenta por uma gota de água, e após ter caminhado por horas em um caminho cujo cumprimento parecia tender ao infinito, se viu obrigado a consumir das poças no chão, inundadas em lama, e então, sem forças, ali adormeceu, onde agonizou por horas e num súbito suspiro pereceu. O raio que iluminava então se esvaiu e o silêncio tomou o local por completo.


A relação da mente com a morte é equivalente a situação de uma criança largada em um sombria floresta, indefesa, sem poder fazer nada, ela luta o quanto pode, persiste, mas não é capaz de impedir o inevitável.


O resquício de luz, de vida, lhe proporciona a esperança de que ainda exite um futuro, de que ainda vale a pena caminhar perante tamanha dificuldade, porém o ar se torna inalável e boca lateja de secura, na qual a água não mais mata a sede e seria tão irrelevante quanto usufruir de lama para mata-lá.


A mente se cansa e o caminhar se torna árduo, a sensação do corpo falhando se faz tão presente que seu incomodo não mais é sentido, até que os sentidos sessam e a vida se termina, deixando a mente em silêncio.


A morte não passa de um ciclo natural, todas as coisas nascem, se desenvolvem e morrem, porém como somos seres dotados de emoções buscamos relacionar a morte aos nossos sentimentos, para muitos ela é sinônimo de alegria, de paz, para outros, de tristeza e final, o medo do desconhecido nos leva a procurar entender algo além de nossa compreensão e então remeter a isso alguma tradução baseada em nossa realidade, e é assim com o ação de morrer, estamos tão centrados em nós mesmos que esquecemos que o sentido dela está no âmbito natural, e não voltado para nós e nossa existência, e assim o processo se torna melancólico e pavoroso, pois trazemos um ciclo natural para nossas mentes em um sentido social e antropocêntrico.


Não cabe ao ser humano conceber os fins da morte, cabe a este apenas viver e saber suas limitações, e dessa forma não viver para o mundo mundano, e assim fazer o que lhe parece melhor, não o que o social lhe diz parecer, pois ele precisa ter a noção de que seu tempo tem um fim, e esse final é inevitável, não cabe a ele decidir o quanto irá viver, mas sim o que irá viver.


 
 
 

Comentários


Recent Posts
  • Twitter Social Icon
  • Instagram Social Icon
  • Facebook Social Icon

© 2017 by Lucas Ramos

bottom of page